Bolívar se despede do Inter e Grêmio não está descartado: "É preciso buscar novos ares"

05/01/2013 15:19

 

Bolívar conta nos dedos, volta a contar, pede ajuda e enfim chega ao número preciso. Foram nove temporadas no Inter que se encerraram com uma assinatura em folha timbrada do Inter. A rescisão de contrato formalizada nesta quinta encerrou um ciclo pontuado por 11 títulos. Entre eles duas Libertadores, a Recopa e a Copa Sul-Americana. Em boa parte deles, foi o responsável por erguer a taça.

Os momentos doces, porém, acabaram no inverno de 2011. A partir do 3 a 3 com o Santos, na noite fria de 31 de agosto, a torcida passou a contestá-lo. Naquele jogo, Bolívar havia feito um gol e sofrido o pênalti de outro. O Inter fez 3 a 0, mas levou três gols. Em dois deles, Bolívar estava na jogada.

A partir dali, a relação dos colorados com seu capitão se tornou tempestuosa. O desfecho da sua vida no Inter foi o pior possível, com treinos solitários no CT de Alvorada. O técnico Fernandão e a direção alegam recusa em ficar na reserva contra o Corinthians. Bolívar dá outra versão, de que havia sido liberado e já estava até em Santa Cruz do Sul com familiares.

Nos próximos dias, ele deve definir seu futuro. Palmeiras, Cruzeiro e Sport demonstraram interesse. Mas há ainda a possibilidade de parar no Olímpico, onde começou a carreira. Não se pode descartar.

Cuidadoso com as palavras, o zagueiro evita polêmicas ou críticas. Mas deixa transparecer a tristeza por deixar o clube dessa forma:

– Tenho toda uma história no Inter, mas, quando se encerra um ciclo, é preciso buscar novos ares.

Confira em vídeo a entrevista de Bolívar: 


Zero Hora – Como está se sentindo depois de encerrar um ciclo de nove temporadas no Inter?
Bolívar
 – Um pouco triste, pela história, pelos títulos e pelos amigos que conquistei aqui. Não sou eu que mando e quem manda acha que o meu ciclo se encerrou. Joguei quase minha vida toda aqui. Fico triste, mas não vou abaixar a cabeça. Tenho mais cinco ou seis anos de carreira pela frente.

ZH – E qual é a perspectiva para o seu futuro imediato?
Bolívar
 – Muito boas. Tenho nome, currículo, experiência e liderança. Hoje é complicado pegar jogadores no mercado e estou com passe livre, o que pode facilitar as coisas. Espero ter algo concreto até o fim da semana.

ZH – Você pode jogar a Libertadores?
Bolívar
 – Acredito que sim. A minha imagem é muito positiva, sou um cara muito profissional, vou torcer para buscar novos rumos e objetivos na carreira.

ZH – E você jogaria outra vez no Grêmio?
Bolívar
 – Tenho toda uma história no Inter, mas, quando se encerra um ciclo, é preciso buscar novos ares. Tenho que procurar um novo clube e há interessados. Meu ciclo se encerrou, só tenho que agradecer tudo que o Inter me proporcionou.

ZH – Você ficou chateado com os fatos do ano passado, até de uma certa perseguição da torcida? Como você avalia esse desfecho?
Bolívar
 – Desde 2006, o Inter ganhou um título internacional por ano. Quando isso parou, em 2011, sobrecarregou alguns jogadores, sobretudo aqueles que estavam lá há tempos. A torcida cobra porque sabe que esses jogadores deram respostas anos atrás. Se você é profissional de um grande clube, tem que aceitar isso. Você aceita, ainda que elas sejam extrapoladas por vezes. Espero ter uma nova trajetória logo na minha vida.

ZH – Você ficou marcado pelo jogo contra o Mazembe?
Bolívar
 – Quem conhece um pouco o futebol sabe que acabei sendo culpado por estar perto daqueles lances. Futebol é muito objetivo. No primeiro gol, Renan não tinha como buscar um chute indefensável. Saímos em cima, poderíamos ter marcado com cinco minutos de jogo, mas levamos o gol e nos desesperamos um pouco. Mas tenho que aceitar, pelo nome que tenho, as cobranças acontecerão. Sou culpado por ter conquistado tantos títulos e ser cobrado. Mas isso ajuda no crescimento profissional. Não tenho que criticar ninguém, se houve críticas, elas foram para o meu crescimento.

ZH – Qual a sua versão sobre o seu afastamento do Inter, quando Fernandão disse que você se negou a concentrar e ficar no banco diante do Corinthians (Juan teve uma indisposição na véspera e foi retirado da partida)?
Bolívar
 – Tenho nove temporadas e 11 títulos no Inter. Nunca faltei a treinos ou deixei de jogar nem concentrar ou coisa parecida. Contra a Ponte Preta (em 11 de novembro, pela 33ª rodada do Brasileirão), não haviam zagueiros, e eu estava há 17 jogos sem atuar. Logo, seria muito fácil, como muitos, não aqui no Inter, "sentir uma lesão", e não ir para uma partida dura como aquela, colocando o meu nome em risco. Foi ao contrário: eu pedi ao Fernandão para jogar. Quando saí do time, o Inter tinha a terceira defesa menos vazada do campeonato. Quem está no futebol costuma cuidar isso. No jogo que o Fernandão disse que me neguei a concentrar, eu já estava viajando. Estava em Santa Cruz do Sul, não me neguei. Foi muito fácil para ele falar aquilo e tirar a questão da derrota. Mas coloquei uma pedra nisso. Sempre fui muito profissional. Cada um dá a sua versão.

ZH – Como ficou a sua relação com Fernandão após aquele episódio?
Bolívar
 – Nos falamos por mensagem, acho que ele não imaginou a repercussão, sempre fomos muito amigos, mas falar sobre isso, e não comentar o jogo, foi algo que não consegui entender.

ZH – Como repercutiu no vestiário a ascensão de Fernandão, de diretor de futebol a treinador, após a demissão de Dorival Júnior, e, depois, a entrevista na qual falou sobre a "zona de conforto" de determinados jogadores?
Bolívar
 – Como qualquer profissional, você não gostaria que o seu chefe externasse alguma coisa sobre o seu trabalho para todos. Repercutiu mal. Mas sabíamos que tinha um objetivo, pois os resultados não estavam sendo positivos. Se deixássemos nos afetar mais, poderia ser ainda pior. Colocamos panos quentes em cima. Conversamos no vestiário, ele disse que errou no momento e os jogadores se sentiram chateados. Mas em momento algum deixaram de correr, nunca aconteceu o "boicote" que foi falado. É um vestiário blindado, com profissionais muito amigos no grupo. O vestiário não é dividido, é de pessoas que querem o melhor para o Inter.

ZH – Como você vê a sua carreira no Inter?
Bolívar
 – Depois do Índio, sou o maior vencedor do clube. Admiro muito o Índio. É complicado passar pelo clube e não marcar história. Meus netos vão ver o meu retrato levantando taças pelo Inter.

ZH – Qual conquista foi mais relevante, a Libertadores de 2006 ou a de 2010?
Bolívar
 – Na primeira, antes de jogar as finais, eu já estava vendido ao Monaco. E isso me marcou muito, por ser a primeira grande conquista do clube. Eu jogava de cabelo comprido ainda. Na segunda, recebi a taça do Pelé, era o capitão, tenho um quadro enorme em casa. E marcou pelo gol que fiz no Chivas, na vitória de 2 a 1, no México.

ZH – Dunga fará um bom trabalho com o atual elenco do Inter?
Bolívar
 – A gente sabe da postura dele como atleta e como treinador da Seleção. Tem tudo pra dar certo, conhece a linguagem dos jogadores, terá o respaldo do grupo. Todos perguntam por que não houve resultados melhores em 2012. Esse grupo é movido por resultados positivos, acredito que 2013 poderá ser um ano importante, com um treinador novo, que quer ser campeão nesse reinício de carreira.

ZH – E por que o grupo não foi bem em 2012?
Bolívar
 – Houve muitas lesões, o Inter não repetiu a equipe em três jogos seguidos sequer. Até retornar de lesão e pegar ritmo de jogo, demora bastante. O jogador precisa estar na ponta dos cascos, mas era uma lesão atrás da outra. Isso dificultou para que o time andasse bem.

ZH – Você já assimilou a saída?
Bolívar
 – Qualquer jogador quer atuar no Inter, pela estrutura e por brigar pelos títulos, mas permanecer depende da vontade de outras pessoas também. Tenho 32 anos e muita coisa ainda vai acontecer na minha vida. Me cuido muito, sou muito profissional. Posso ir para outro clube e seguir conquistando títulos importantes.

ZH – Você já imaginou como vai ser voltar ao Beira-Rio um dia?
Bolívar
 – Pude presenciar a volta de outros jogadores, vai ficar um sentimento muito grande. É muita história, tenho certeza que serei bem recebido pelo verdadeiro torcedor colorado, aquele que conhece a minha história no clube.

ZH – O Inter foi realmente prejudicado pela curta pré-temporada de de 12 dias no ano passado?
Bolívar
 – É relativo, depende de cada jogador. Houve tempo, sim. Foram 12 dias muito bem trabalhados. A parte física foi bem trabalhada, é complicado querer achar alguma coisa que não deu certo: pré-temporada, lesões... Todos tentaram dar o melhor, mas como explicar que um time como o Inter não foi bem? Essa pergunta vai ficar sem resposta, vai ficar em aberto. Não sei o que não deu certo.

ZH – Quem são os novos líderes do vestiário, os seus substitutos?
Bolívar
 – D'Alessandro e Kleber sempre estavam comigo. Esses dois, junto comigo, levavam o plantel. Têm bagagem e voz no vestiário.

ZH – Você se sentiu desprestigiado por ter que treinar no CT de Alvorada? Para onde, por exemplo, Jô e Jajá foram mandados ao serem afastados do grupo?
Bolívar
 – Treinei com profissionais muito capacitados em Alvorada, mas é claro que você fica triste porque para lá foram jogadores indisciplinados. Eu nunca fui assim, mas tenho que acatar hierarquias. Jamais abaixei a cabeça, sempre fui profissional e pontual.

Fonte: ZHESPORTES